terça-feira, 26 de janeiro de 2010

ENTREVISTA - LUESTER por Maurício Moysés


1. Quem é você?
Eu sou Luester José Soares dos Santos, profissionalmente com o nome de Estúdio Luester Tatoo, tenho 29 anos e tatuo profissionalmente a um ano. Desde de criança eu nunca fui de jogar bola sempre ficava em casa desenhando, gostava muito de desenhar Jhonan Rex, gibi tradicional da década de 60.





2. Como se inicia uma tatoo?
Primeiro você tira o decalque (a copia do desenho original sobre o papel vegetal) e passa pra pele da pessoa.

3. O que fazer antes de iniciar o processo de uma tatoo?
Uma higiene do local, quando você faz um curso você aprende muito de biosegurança, entendeu. Como você vai esterilizar sua sala, seu material. Muita gente (os parceiros de tatuagem) me chamam até de frescurento, mas eu particularmente embalo as minhas máquinas, uso máscara, embalo o local aonde a pessoa irá sentar, só pego tinta específica que eu vou usar.

4. Qual é o material usado?
O tipo da tinta que eu uso é a tinta Electric Ink, umas das melhores marcas do mercado uma referência, uso toalha cirúrgica e vaselina, uma vaselina de boa qualidade não é vaselina comum, o próprio fabricante da tinta te oferece uma vaselina de boa qualidade.

5. Higienização, fale um pouco sobre isso;
Para a higienização eu uso álcool 70% e o Germeril. Geralmente você faz uma assepsia com álcool na pele e dependendo do local você faz uma depilação, passa o álcool e faz o decalque.

6. Quais os passos para cuidar de uma tatoo?
Cuidado é o seguinte, durante 20 dias você deve tomar uma série de procedimentos para sua tatoo continuar com a cor perfeita e não haver algum tipo de inflamação, você não pode comer carne de porco, tudo o que for derivado de porco, bacon, lingüiça essas coiseras, ovos, maionese, chocolate, frutas cítricas. Você não pode tomar banho de sol, sauna, rio e piscina. Banho quente você também não pode tomar, entendeu, durante esses 20 dias, passar no mínimo três vezes ao dia uma pomada Bepantol que é a pomada usada, sempre deixar a tatoo lubrificada.
E depois pro resto da sua vida você usar protetor solar acima de 50 pros raios do sol não danificar a tatuagem.

7. Irritações na pele...
Se a pessoa cuidar direito fica tudo normal, mas se ela não seguir os procedimentos com certeza ela terá uma inflamação.

8. Quando se tem uma pele muito sensível o cliente tem o direito de se fazer a tatoo, como você se coloca nessa situação?
Eu sou o tipo de tatuador assim, e é lógico, eu tô tatuando pela grana que eu tenho uma família pra sustentar, mas eu prefiro falar pra pessoa deixar de fazer esse trabalho, porque eu não sou dermatologista eu não tenho como atestar se a pessoa pode ou não pode tá fazendo essa tatuagem, então eu prefiro deixar de ganhar essa grana e ser sincero com a pessoa, sempre tá alertando. Eu também não coloco piercing em menor de idade, só com autorização dos pais. O menor de idade faz por modismo ele não tem um projeto de vida ele faz porque viu alguém na rua ou na TV ele vai achar que é bonito ele não tem convicção do que ele quer. Então prefiro deixar de ganhar essa grana e tá de bem comigo mesmo, esse foi os princípios que eu aprendi, eu acho que todo profissional deveria agir dessa forma aí, se entendeu. Porque a pessoa é assim o povão é o seguinte, ela não faz aqui e vai fazer no outro e mete o pau no cara que não fez o trabalha, fala que ele é metido é chato é um descoitado. Aí o outro faz e acha que tá lucrando, mas ele ta queimando ele mesmo e todos os profissionais da área.

9. Da pra tirar uma tatoo?
Remover... Tem uns sistemas de laser hoje em dia que não remove 100% e as sessões são caras pra caramba, e ficam com cicatrizes tipo queimadura, fica uma coisa feia.

10. É possível cobrir uma outra tatoo?
Pra fazer um Cover Up que é a cobertura da tatuagem, é do tipo o dobro da que está abaixo. Por isso que quando a pessoa for fazer a tatuagem ele tem que amadurecer a idéia, pra ele não se arrepender, porque no futuro se ele for cobrir já não será do gosto dele, aí o tatuador irá falar que essa tatuagem dá pra cobrir e se encaixara em você. Já não é mais da vontade da pessoa.



Cover Up

11. No seu ponto de vista há valores culturais, religiosos, ancestrais ou é tudo coisa do MUNDO POP (que não é popular e sim modismo)?
Pra ser sincero é pela cultura POP, são pouca as pessoas que se aprofundam, na arte da tatuagem, aí ela compra revista, conhece os estilos, porque no começo a maioria não sabe nem o que quer. O legal de São Paulo (no estado de São Paulo é aonde se encontra os melhores tatuadores), é você da uma passadinha na Galeria do Rock, você chega nos estúdios de tatuagem tem quatro/cinco tatuador, New School (é os grafites de hoje), Old School (tatuagens de marinheiros), Oriental (carpa, dragão), Comercial (fada, anjo) se entendeu. Cada um é especializado em cada coisa. Aqui você não tem muito o que fazer. Pra quem tá começando em Araraquara é difícil não é fácil, porque os próprios parceiros de profissão acabam denegrindo a imagem do outro, porque as pessoas não aceitam ter concorrência se entendeu. Mas tá tendo mercado pra todo mundo. Eu tatuo na periferia, se eu cobro barato as pessoas pensa que eu sou marreteiro, se cobro caro elas não tem condições de pagar. O que o pessoal lá do centro cobra é o que um cara na periferia ganha no mês. É aonde o pessoal acaba denegrindo a pele, fazendo uma tatuagem caseira. Por isso que todos tatuadores da cidade deveriam se reunir e discutir um preço legal, eu sei que o aluguel deles é caro não peço pra eles estarem abaixando os preços iguais os da gente aqui, mas que fosse mais barato pra pessoas terem acesso a arte. Muita mais gente iria fazer.


Comerciais   
                                      

New School


 Old School

                                                               


Orientais

12. Quais as suas inspirações?
São os gibis antigos. Bang Bang, Super heróis. Digo que compensou não jogar bola, mas o meu caderno é outro, hoje ele respira, soa, geme é massa pra caramba não tem coisa igual.




13. Deixe as suas considerações finais, salve, criticas e divulgação do trabalho.
Agradeço a Deus em primeiro lugar, agradeço a oportunidade de expor a minha arte. Vamos fazer uma coisa consciente, se tem bons profissionais e preço no mercado, vamos procurar fazer um trampo da hora. É melhor ter uma arte na pele do que uma cagada. Tô realizado, mas não parei no tempo vou crescer, ávida da gente é uma tremenda evolução.

INTERFERÊNCIA!

Pra quem for tatuar pela primeira vez, procurem referencias sobre o estúdio e os profissionais, procurem ver fotos. Ser tatuador é singular, amo muito que faço.
BUDA tatuador profissional há 12 anos




Buda

VARIEDADES!!!










Tatuagens caseiras


                           
 Luester Tatoo exibe suas tatuagens em seu estúdio no Jardim Iguatemi

FRASES

Apreender é tomar posse de conhecimentos que nos levarão para além do que somos.
por Luis Alberto Mendes


PESADELO...
Madrugada de sábado, eu acordado.
Meus sonhos são abusados.
Eles teimam em não me deixar dormir.
por Rodrigo Ciríaco

Não importa o que o mundo
tenha feito contigo.
Importa antes o que você faz com que o
mundo fez contigo. por Jean Paul Sartre

Arrisca teus passos por caminhos que
ninguém passou. Arrisca tua cabeça pensando
o que ninguém pensou. por Artista Desconhecido
Pixação no Teatro Odeon, em Paris (França) 1978.

SONHO ETERNO por Marcos Novaes (Comunidade dos Excluídos)

Morte
Em que caminho caminhas?
Talvez caminha no ar
Com passos serenos
Como o sereno
Que cai sereno até molhar

Morte
Eu durmo ao relento
E não lamento
Se o sereno me molhar

Morte
Me embala em seus braços
Me cobre de beijos
Mas não me deixe dormir

Morte
Me deixe dormir
E não me acorde aqui
No céu ou no inferno
Eu quero dormir o sono eterno
Para sonhar o sonho eterno
Eu quero ser um deus no reino de Morpheus
Eu quero urinar nas chamas das estrelas

E apagá-las
Eu quero ver o amor odiando o ódio
O ódio amando o amor
Eu quero ser um deus
No reino de Morpheus.

O SOBREVIVENTE I por Luiz Mendes

(Ex-presidiário, condenado a mais de cem anos de prisão por assalto à mão armada e homicídio. Cumpriu 31 anos e 10 meses de prisão, aprendeu a ler e escrever na cadeia encontrou na literatura o refúgio para vencer as barreiras do cotidiano prisional, onde passou no vestibular de direito da PUC. Conquistou a liberdade a pouco mais de cinco anos, atualmente é escritor e já publicou três livros.)

Sujo de tristeza, aflito como os ratos, condenado ao negro e ao nunca mais, estranhou. Ele, pessoa que o mundo repelira e que as muralhas entrincheiraram, estava sendo procurado. Queriam conhecer do que se alimentava sua existência.
Como venceu a fome e o exílio? Superou a violência, sobreviveu aos cogumelos atômicos da dor e prolongou-se na vida? Qual o segredo do homem que, caçado nas ruas, teve seu sangue derramado nas calçadas e foi cercado de grades para sempre?
Porque a lua de lírios decepada, emoldura seu rosto e a morte o evita? O homem de lágrimas redondas segue seu caminho de ferro, esparramando-se em palavras escuras.
Vive em si. Imagino que deva ter um conjunto de engrenagens que faz seu tempo andar e um estoque de horas que aprendeu a valorizar.
Aprendeu a subverter. Viveu lutando contra a angústia que invadia suas noites, enquanto as paredes de sua cela, seu duro esconderijo, se encolhiam. Sofreu de um amor sem uso que pulsava, na atmosfera de chumbo que o cercava.
As dores, tão cruas e desnecessárias, o inundaram de compaixão. A agonia de cada dia o solidificou. De derrota em derrota, construiu a vitória de si mesmo. Lucidez era difícil. Não podia gritar o desespero de enxergar. Vivendo uma morte secreta, perdido a um sempre procurar, desceu a seu inferno pessoal para merecer o melhor de si.
Seu futuro vive embrenhado em mata indevassável. Olhos carregados de fantasmas, sentia que somente o imprevisível resgataria sua liberdade. Vive como que houvesse nascido na prisão e que morrer preso, seja parte de seu destino de pedra.
Despreocupem-se se ainda o temem, afirma. Esta salvo de seus demônios. Não ensinara o segredo. Continuara guardado, em gesto alto, porque ele mesmo não tem resposta. Apenas existe e resiste a cada dia, sobrevivendo a si mesmo.

Composto em 04\03\2004, um mês antes de conquistar a liberdade.

E-mail: lmendesjunior@gmail.com
Blog: www.trip.com.br/mundo livre

O CAMPINHO por Dé (mc e compositor do grupo de RAP Mentes Urbanas DCI)

Mais uma noite chegou, trazendo sua beleza única, colocando um fim momentâneo na alegria daqueles moleques. Meninos que logo ao amanhecer, após tomarem o café da manhã, alguns não comiam nada, resultado da ansiedade em chegar primeiro, corriam desesperadamente para aquele "campinho", pareciam que eram "programados".
Chegavam, e em menos de cinco minutos, já estavam os times formados e eles divertindo-se jogando futebol.
Passavam horas e horas naquele "campinho" de terra batida, cercado de mato por todos os lados, ao fundo a horta do seu "Sisso".
Podia chover, fazer sol de rachar mamona, que os garotos não abandonavam aquela fonte de imensa alegria e satisfação, parecia que os seus pés tinham camadas protetoras contra a terra quente, quantas chuvas fortíssimas, chuvas de terra, eles enfrentavam para podre continuar o jogo.
Poucos metros abaixo, o "campão", ou o "campo do Bar do Rafael", como era conhecido, campo muito grande, gramado, onde se enfrentavam vários marmanjos, e só gente grande podia jogar ali, exceto alguns menores de muita habilidade que eram escalados de vez em quando.
Mesmo assim, era o "campinho" que atraia o encanto da molecada, parecia que ali o tempo parava, os relógios, as horas, para nós não existiam, era demais poder jogar futebol o dia inteiro, e no fim da tarde, ver ao longe o sol deitando-se na região da usina Zanin, com seus braços abertos para nós.
Só deixávamos de jogar quando a bola sumia no mato, ou não conseguíamos encontrar a bola na horta do seu "Sisso", devido à escuridão da noite, enfeitada pelas estrelas.
Muitas vezes com a ocasião do empate, como não gostávamos de deixar para depois, decidíamos a partida sob a luz da lua cheia, que servia como refletor.
Durante os fins de semana, aquele pedaço de terra batita lotava, os "marmanjos" muitas vezes migravam para o "campinho". Nesses dias, perdida a primeira partida, muitos abandonavam, e ficavam só assistindo, pois a chance de jogar de novo antes do anoitecer era pequena.
A bronca geral era do dono da "mercearia do gaúcho", que tinha as paredes do mercadinho bombardeadas belos chutes fortíssimos dos moleques. As nossas mães também ficavam loucas, iradas com a cor de nossas roupas, parecíamos todos uns tatus. Era comum chegar em casa e ouvir:

- " Vá se lavar no tanque antes de ir tomar banho".

Nós, a molecada da época cuidávamos do "campinho" como se fosse partes integrantes de nossos corpos, se quisessem nos ferir, era só falar que um dia o "campinho" seria destruído, para nós ele tinha vida, e era considerado imortal.
Mas um dia tudo acabou, Jailton, bem mais velho que nós, mas que também compartilhava do "campinho", comprou o terreno e construiu sua casa ali.
Chegara ao fim mais de dez anos (1991 a 2002) de alegrias, emoções fortes, três gerações de garotos que ali se divertiam e na inocência de criança, acharam que duraria para sempre.
Para muitas pessoas, isso é uma grande bobagem, mas quando criança, o que se faz e recebe de bom ou ruim, leva-se por muito tempo na caminhada da vida.
Daria para escrever um pequeno livro sobre o "campinho", mas não sei se conseguiria tal feito, talvez mais pra frente, escreva algum conto, texto, etc, para deixar eternizado nas páginas, as brigas, as confusões dos meninos, os campeonatos, os clássicos, os times que marcaram ("time do Boinha", "time do Dé", "time do Marquinhos").
Escrevi este pequeno texto para relembrar a parte mais marcante da minha infância, e da maioria da molecada da nossa época, para dizer que hoje em dia é raridade encontrar um “campinho’ de futebol nas áreas urbanas, e a molecada de hoje está tendo a infância encurtada e poluída por vídeos games, orkut e MSN”.