segunda-feira, 17 de maio de 2010
ENTREVISTA – ADRIANO "No mundo da arte urbana" por Maurício Moysés
Quando o conheci foi em meados de 2006 ou 2007, apresentado por Marcos Novais, pois sempre que era publicada uma nova edição do informativo: Guerrilha DCI eu passava na Rua 2 para a divulgação rotineira e lá encontrava-o com um olhar sereno mas ao mesmo tempo esperto. Sempre fazendo algo, vendendo sua arte ou produzindo-as. Mas me chamou atenção quando esteve mais presente no Sarau Canários, declamava fortes poesias de escritores inteligentes, até revelar o seu dom com a pintura. Telas construídas com tinta em spray. Muito belo muito loko, uma viagem sem fim a cada imagem.
Pessoas como Adriano jovem de 33 anos morador do Adalberto Roxo, bairro de periferia que vivem no submundo e muitas vezes são engolidas pelos prédios do centro e acabam ficando na sombra. Assim como tive o prazer de conhecê-lo gostaria que você leitor também o conhecesse.
1. Quando descobriu o seu talento para arte?
2. Quais as suas influências?
Várias delas, indígenas, a idade média, trabalhos medievais.
3. Qual o seu ponto de vista sobre as atividades culturais da cidade?
O pessoal não tem interesse cultural. Rola mais com o pessoal da periferia, eles fazem alguma coisa.
4. Porque muitas vezes a arte independente não tem valor?
Tipo assim... Pelo sistema intervir nisso, em não divulgar a arte que vêm do povo.
5. Como é vender na rua?
Existe preconceito ta ligado! Muitas pessoas marginalizam, julgam a pessoa e tiram um ponto de vista que não é. Mas dá pra sobreviver, não ganha muito, mas dá pra levar assim. A gente trabalha pra caramba também, muita gente vê pensa que ta ali parado sem fazer nada, mas se for ver a vida do artesão que ta na rua, eles trabalham 24 horas. Produzindo e correndo atrás do dinheiro.
6. Indique um livro, um filme e uma música.
Pô não sou muito de ler, agora não dá pra responde. A música também, eu ouço, mas não guardo muito bem quem é. Nação Zumbi tem muita coisa cara! Rock Nacional, Internacional, tem muitos estilos.
7. Observo que em suas obras com a pintura você sempre evoca a planetas e natureza juntas, existe um propósito?
Eu não quero passar alguma coisa, faço mais porque eu gosto, gosto de natureza de coisas diferentes. Agora a pessoa quê viaja, tipo assim nada político, mais natural, liberdade.
8. Já era de esperar a relação de um país tropical como o Brasil estar sob essas catástrofes ecológicas, decorrente de um clima desequilibrado. Qual é o seu sentimento perante essa situação?
Tristeza, o homem mesmo tá causando isso, com a ganância ele é cego e destrói. Somente com educação, conscientizações de verdade podem reverter isso. Ensinar os pequenos, não deixar contaminar as crianças.
9. Considerações finais.
Olha as pessoas... Elas andam porque tem que andar, não é porque elas querem, senão não estariam assim nessa manipulação. As pessoas têm que se aproximar mais, se interessar mais umas pelas outras e deixar de ter medo. Nada está perdido.
A MINHA FILHA GIOVANA por Dé (mc e compositor do duo de Rap Mentes Urbanas DCI)
Do choro no nascimento
Aos primeiros passos
Pensando todo momento
No seu inigualável abraço
Vinte nove de fevereiro
É a data especial
Me fortaleceu na caminhada
Com seu sorriso sem igual
Alegria maior da minha vida
Encheu meus dias de ternura
Longe de você, fico sem saída
Tristemente preso na amargura
As primeiras palavras, momentos incríveis
Me chamou de papai
Sentimentos inesquecíveis
Na suavidade de teus passos
Ilumina meu caminho
Na força do teu abraço
Não me sinto sozinho
Fortalecendo-me pra seguir em frente
Tua serenidade é de uma dama
Crescendo alegremente
Te amo GIOVANA.
Aos primeiros passos
Pensando todo momento
No seu inigualável abraço
Vinte nove de fevereiro
É a data especial
Me fortaleceu na caminhada
Com seu sorriso sem igual
Alegria maior da minha vida
Encheu meus dias de ternura
Longe de você, fico sem saída
Tristemente preso na amargura
As primeiras palavras, momentos incríveis
Me chamou de papai
Sentimentos inesquecíveis
Na suavidade de teus passos
Ilumina meu caminho
Na força do teu abraço
Não me sinto sozinho
Fortalecendo-me pra seguir em frente
Tua serenidade é de uma dama
Crescendo alegremente
Te amo GIOVANA.
MASSA MANIPULADA por Luester Tatoo
Porque nem sempre temos o que queremos
Nem sempre o que queremos é o que temos
Nem sempre amigos, são de fato amigos.
A resposta nem sempre temos,
Mas mesmo assim questionamos?
O que faz pessoas se esquecerem do papel
Mãos que não se apertam,
Braços que não se abraçam, quando pouco se entrelaçam.
Esses são tão falsos
Às vezes o que editam, ensaiam e encenam,
Pra que no final de um grande ato obtenhamos a resposta
Ensaiada e descarada, destorcida e complicada
Afinal ninguém entende, confundem, confundiram nossa mente.
Com palavras adocicadas, uma massa inconformada,
Quase sempre abobalhada
Mas uma vez ludibriada.
É sempre assim que nos sentimos,
Quando noticiário assistimos:
Eles sempre bem vestidos, como manda o figurino
Prontos , para entrar, uma massa enganar
E o seu ato finalizar
Em que mundo estamos
Manipulados, feito bonecos de pano,
Temos a mente estraçalhadas
Pelo sistema que lá está pra supostamente ajudar,
Mas só faz atrapalhar.
O ser humano, machucado,
Com o corpo esmagado
Como escravo acovardado, ali permanece sentado
Já não sente os estalos, que lançados pelo chicote,
E mãos do Estado.
Sua cabeça já não levanta
Engole seco o nó na garganta
Então olha para os seus
Que mesmo ao lado, os vê tão ausente
Por segundos lhe vem lampejos
Se a maioria se unisse, arrasaria,
"A suposta democracia"
Derrepente escuta um barulho
Abre os olhos se vê no escuro
Questiona-se que barulho seria aquele,
Olha ao lado vê um relógio
Que mais uma vez o desperta
"Para o pesadelo da realidade imposta"
Sai de casa fecha a porta,
Se junta a massa,
Que só espera para ser manipulada.
Nem sempre o que queremos é o que temos
Nem sempre amigos, são de fato amigos.
A resposta nem sempre temos,
Mas mesmo assim questionamos?
O que faz pessoas se esquecerem do papel
Mãos que não se apertam,
Braços que não se abraçam, quando pouco se entrelaçam.
Esses são tão falsos
Às vezes o que editam, ensaiam e encenam,
Pra que no final de um grande ato obtenhamos a resposta
Ensaiada e descarada, destorcida e complicada
Afinal ninguém entende, confundem, confundiram nossa mente.
Com palavras adocicadas, uma massa inconformada,
Quase sempre abobalhada
Mas uma vez ludibriada.
É sempre assim que nos sentimos,
Quando noticiário assistimos:
Eles sempre bem vestidos, como manda o figurino
Prontos , para entrar, uma massa enganar
E o seu ato finalizar
Em que mundo estamos
Manipulados, feito bonecos de pano,
Temos a mente estraçalhadas
Pelo sistema que lá está pra supostamente ajudar,
Mas só faz atrapalhar.
O ser humano, machucado,
Com o corpo esmagado
Como escravo acovardado, ali permanece sentado
Já não sente os estalos, que lançados pelo chicote,
E mãos do Estado.
Sua cabeça já não levanta
Engole seco o nó na garganta
Então olha para os seus
Que mesmo ao lado, os vê tão ausente
Por segundos lhe vem lampejos
Se a maioria se unisse, arrasaria,
"A suposta democracia"
Derrepente escuta um barulho
Abre os olhos se vê no escuro
Questiona-se que barulho seria aquele,
Olha ao lado vê um relógio
Que mais uma vez o desperta
"Para o pesadelo da realidade imposta"
Sai de casa fecha a porta,
Se junta a massa,
Que só espera para ser manipulada.
ELEFANTE DISTRAÍDO por Marcos Leal estudante do curso de Ciências Sociais da UNESP-Araraquara
No fim do caminho havia uma escada
E as arvores que tagarelavam entre si
Maledicências contra o vento
Que as pintava em nu
Outono pleno
Havia uma escada no fim e um caminho
Por onde os meninos magrelos iam perdidos
E sorriam bonitamente comendo flores que caíam
Voando em suas bicicletas e suas idéias de pombo
Pingo a pingo a chuva era pinga e bobagem
Vontades e fins de tardes com açúcar
E o diabo sorria pras moças no escuro
Os olhos pululantes de bundas
Os chifres ranzinzas da velhice
O rabo acuado e o assovio tarado
As moças
Ah! as moças
Não gostavam disto, olhavam ruinmente
Mas iam na sua morenice noite
As paixões e a calma entre as pernas
Compartilhar as tontices dos meninos
Na escada que havia no fim do caminho
E as arvores que tagarelavam entre si
Maledicências contra o vento
Que as pintava em nu
Outono pleno
Havia uma escada no fim e um caminho
Por onde os meninos magrelos iam perdidos
E sorriam bonitamente comendo flores que caíam
Voando em suas bicicletas e suas idéias de pombo
Pingo a pingo a chuva era pinga e bobagem
Vontades e fins de tardes com açúcar
E o diabo sorria pras moças no escuro
Os olhos pululantes de bundas
Os chifres ranzinzas da velhice
O rabo acuado e o assovio tarado
As moças
Ah! as moças
Não gostavam disto, olhavam ruinmente
Mas iam na sua morenice noite
As paixões e a calma entre as pernas
Compartilhar as tontices dos meninos
Na escada que havia no fim do caminho
LAURO " Conto Verídico sobre um Canalha”
Setembro\l990 Revisado em 04/03/2010, vinte anos depois.
Já fora um homem até bem apessoado. Agora seu corpo encurvado, exibia corcunda acentuada. Sombrio, devastado pelos anos de prisão e vícios acumulados. Olhos pequenos e vermelhos, como de um rato. Moviam-se incessantemente. Rugas escavavam vales, vincando seu rosto envelhecido cuja pele flácida caia, atraída pela gravidade.
Era conhecido como principal delator do Chefe de Disciplina. Ano de l973, ditadura plena no país. O espancamento dos presos com canos de ferro na Penitenciária do Estado fazia parte do alinhamento político. Lauro distribuía alimentação aos presos que estavam de castigo na cela forte.
Não conheci nenhuma cela de prisão que fosse “fraca”. Todas eram fortíssimas. Mas aquelas eram especialmente fortes. Chapas de aço na porta e janela. O ar entrava por milimétricos furos na chapa da janela. O chão era de caquinhos de cerâmica. Paredes úmidas e pegajosas. Nada além da privada, do colchão e do sentenciado ali, mergulhado na mais negra solidão.
Não seria apenas estar preso. O verbo nunca foi de transição e sim de definição. A idéia era transformar a pessoa ali submetida, em um ser aprisionável. O método era isolar e privar de qualquer conforto. Proibido fumar, ler ou conversar. Uma bituca apreendida acrescentava mais 30 dias à sanção disciplinar. Nem bíblia era permitido. A porta só abria para os brutamontes do choque da Casa revistassem a cela. Banho, barba e cabelo às quintas-feiras. Abriam uma cela de cada vez; saíamos nus passando por corredor de homens enormes armados de canos de ferro.
Estávamos ali, cerca de uma centena de presidiários, inteiramente à mercê do Lauro, do Choque e do Marcelino, funcionário da cela forte. Eles sentiam-se na obrigação de nos humilhar e sacanear sempre que podiam.
Aceitávamos silenciosamente. Nosso olhar era de observação, estudávamos os inimigos. Mas carregava toda a fúria e revolta de nossa alma. Ódios trocados, duelos de olhos que se batiam como espadas em fogo. Resistir sem sermos quebrados, era nosso esforço. Chegaria nossa vez.
Vivíamos à noite, quanto Lauro e os guardas dormiam e dormíamos de dia, quando eles nos vigiavam. Inventávamos jogos e contávamos histórias pelo encanamento da privada, nosso nauseabundo "telefone".
Amarrávamos linha a um sabonete e arremessávamos pelo encanamento da privada. O companheiro dos andares acima, fazia o mesmo com uma linha mais forte. Balançávamos as linhas até que se embaraçassem. Então puxávamos trazendo a linha do parceiro em regime comum.
Por ali transportávamos cigarros, fósforos, café, bang bang e outras coisas. Pela manhã tudo era devolvido, antes da eletrizante visita dos "amigos" do Choque. Alguém colocava o rádio na privada e ouvíamos música pela noite adentro.
Guardávamos cigarros e fósforos entre as nádegas. Os guardas nos marcavam sob pressão. Possuíam prazer mórbido de nos pegar em infração disciplinar para aumentar nossa estadia naquele inferno. Não bastavam os longos anos de prisão que cada um de nós tinha a cumprir.
Carlão nem ligava mais. Estava condenado a mais de cinco anos de cela forte. Matara três companheiros e ferira uma meia dúzia de uma vez só. Fora outros que matava sempre que tinha chance. O que seriam meses para quem já estava ali a anos e tinha anos para ficar?
Lauro ficava indignado. Não aceitava que na cela-forte “dele”, fôssemos surpreendidos com cigarros, papel, caneta e até raramente, maconha. O Chefe de Disciplina exigia explicações dele. O sujeito nos denunciava, contando como fazíamos o transporte e como nos comunicávamos com os companheiros do regime comum.
Um canalha. À primeira oportunidade, seria assassinado. Carlão o olhava quase babando de vontade de beber seu sangue. Mas o sujeito era esperto. Quando nos soltavam, ele se trancava em sua cela.
O Cirane não admitia. Os presos em regime disciplinar não podiam continuar contrabandeando coisas que ele considerava regalias. Foi Lauro quem surgiu com a idéia de mudar o encanamento das celas fortes. Caixas coletoras só para as celas disciplinares. Era dispendioso. Mas para nos sacanear, gastos não seriam considerados. Desenhou, montou o orçamento e se propôs a concretizar o projeto.
O que ganharia com isso? Continuaria gozando de regalias: ficar solto à noite; alimentação melhor; chave da porta de sua cela na sua mão; poder ir e vir nos pavilhões; espaço e liberdade. Era uma identificação. Queria diferenciação, ser alguém no contexto da prisão. Essas eram as motivações conhecidas e declaradas.
Em prazo recorde, concluiu o projeto. Tornou impossível a comunicação com o mundo exterior à nossas celas. Por trás, uma motivação oculta, de caráter econômico. Dai para frente, se quiséssemos fumar, ler, escrever, receber ou dar algum recado, era preciso pagar um imposto super abusivo para o nosso “caro amigo” Lauro.
Nossos amigos nos prestavam assistência. Mais da metade ficava com nosso algoz, para que chegasse até nós. E carecíamos ser cordiais, gentis e sorrir para o safado. Caso contrário, nem pagando alto preço, recebíamos nada.
Durante anos, esse pilantra nos explorou o quanto quis. Ainda recebia rasgados elogios pelo seu comportamento, da Diretoria da Casa. Culminaram em premiá-lo com a liberdade. A única dúvida é se lá fora ele conseguiu todo espaço e liberdade que possuía na prisão.
Já fora um homem até bem apessoado. Agora seu corpo encurvado, exibia corcunda acentuada. Sombrio, devastado pelos anos de prisão e vícios acumulados. Olhos pequenos e vermelhos, como de um rato. Moviam-se incessantemente. Rugas escavavam vales, vincando seu rosto envelhecido cuja pele flácida caia, atraída pela gravidade.
Era conhecido como principal delator do Chefe de Disciplina. Ano de l973, ditadura plena no país. O espancamento dos presos com canos de ferro na Penitenciária do Estado fazia parte do alinhamento político. Lauro distribuía alimentação aos presos que estavam de castigo na cela forte.
Não conheci nenhuma cela de prisão que fosse “fraca”. Todas eram fortíssimas. Mas aquelas eram especialmente fortes. Chapas de aço na porta e janela. O ar entrava por milimétricos furos na chapa da janela. O chão era de caquinhos de cerâmica. Paredes úmidas e pegajosas. Nada além da privada, do colchão e do sentenciado ali, mergulhado na mais negra solidão.
Não seria apenas estar preso. O verbo nunca foi de transição e sim de definição. A idéia era transformar a pessoa ali submetida, em um ser aprisionável. O método era isolar e privar de qualquer conforto. Proibido fumar, ler ou conversar. Uma bituca apreendida acrescentava mais 30 dias à sanção disciplinar. Nem bíblia era permitido. A porta só abria para os brutamontes do choque da Casa revistassem a cela. Banho, barba e cabelo às quintas-feiras. Abriam uma cela de cada vez; saíamos nus passando por corredor de homens enormes armados de canos de ferro.
Estávamos ali, cerca de uma centena de presidiários, inteiramente à mercê do Lauro, do Choque e do Marcelino, funcionário da cela forte. Eles sentiam-se na obrigação de nos humilhar e sacanear sempre que podiam.
Aceitávamos silenciosamente. Nosso olhar era de observação, estudávamos os inimigos. Mas carregava toda a fúria e revolta de nossa alma. Ódios trocados, duelos de olhos que se batiam como espadas em fogo. Resistir sem sermos quebrados, era nosso esforço. Chegaria nossa vez.
Vivíamos à noite, quanto Lauro e os guardas dormiam e dormíamos de dia, quando eles nos vigiavam. Inventávamos jogos e contávamos histórias pelo encanamento da privada, nosso nauseabundo "telefone".
Amarrávamos linha a um sabonete e arremessávamos pelo encanamento da privada. O companheiro dos andares acima, fazia o mesmo com uma linha mais forte. Balançávamos as linhas até que se embaraçassem. Então puxávamos trazendo a linha do parceiro em regime comum.
Por ali transportávamos cigarros, fósforos, café, bang bang e outras coisas. Pela manhã tudo era devolvido, antes da eletrizante visita dos "amigos" do Choque. Alguém colocava o rádio na privada e ouvíamos música pela noite adentro.
Guardávamos cigarros e fósforos entre as nádegas. Os guardas nos marcavam sob pressão. Possuíam prazer mórbido de nos pegar em infração disciplinar para aumentar nossa estadia naquele inferno. Não bastavam os longos anos de prisão que cada um de nós tinha a cumprir.
Carlão nem ligava mais. Estava condenado a mais de cinco anos de cela forte. Matara três companheiros e ferira uma meia dúzia de uma vez só. Fora outros que matava sempre que tinha chance. O que seriam meses para quem já estava ali a anos e tinha anos para ficar?
Lauro ficava indignado. Não aceitava que na cela-forte “dele”, fôssemos surpreendidos com cigarros, papel, caneta e até raramente, maconha. O Chefe de Disciplina exigia explicações dele. O sujeito nos denunciava, contando como fazíamos o transporte e como nos comunicávamos com os companheiros do regime comum.
Um canalha. À primeira oportunidade, seria assassinado. Carlão o olhava quase babando de vontade de beber seu sangue. Mas o sujeito era esperto. Quando nos soltavam, ele se trancava em sua cela.
O Cirane não admitia. Os presos em regime disciplinar não podiam continuar contrabandeando coisas que ele considerava regalias. Foi Lauro quem surgiu com a idéia de mudar o encanamento das celas fortes. Caixas coletoras só para as celas disciplinares. Era dispendioso. Mas para nos sacanear, gastos não seriam considerados. Desenhou, montou o orçamento e se propôs a concretizar o projeto.
O que ganharia com isso? Continuaria gozando de regalias: ficar solto à noite; alimentação melhor; chave da porta de sua cela na sua mão; poder ir e vir nos pavilhões; espaço e liberdade. Era uma identificação. Queria diferenciação, ser alguém no contexto da prisão. Essas eram as motivações conhecidas e declaradas.
Em prazo recorde, concluiu o projeto. Tornou impossível a comunicação com o mundo exterior à nossas celas. Por trás, uma motivação oculta, de caráter econômico. Dai para frente, se quiséssemos fumar, ler, escrever, receber ou dar algum recado, era preciso pagar um imposto super abusivo para o nosso “caro amigo” Lauro.
Nossos amigos nos prestavam assistência. Mais da metade ficava com nosso algoz, para que chegasse até nós. E carecíamos ser cordiais, gentis e sorrir para o safado. Caso contrário, nem pagando alto preço, recebíamos nada.
Durante anos, esse pilantra nos explorou o quanto quis. Ainda recebia rasgados elogios pelo seu comportamento, da Diretoria da Casa. Culminaram em premiá-lo com a liberdade. A única dúvida é se lá fora ele conseguiu todo espaço e liberdade que possuía na prisão.
PENSAMENTOS... por Marcos Novaes
É meio-dia uma noite sem fim
Não há estrelas
Pirilampos gigantes agonizam no jardim
Espinhos fosforescentes iluminam as rosas
Enquanto atravesso o deserto da solidão psicológica
Contemplando as flores vampiras que crescem no estrume
[dos meus pensamentos ruins]
E sugam as idéias que brotam da minha
Mente doente
Fazendo dos meus sonhos
Sonhos abstratos de difícil interpretação
Onde sou maior do que a imaginação
Ou menor do que o que não existe
Onde tudo o que é real foi sonhado
Mas nem tudo o que foi sonhado será real.
Não há estrelas
Pirilampos gigantes agonizam no jardim
Espinhos fosforescentes iluminam as rosas
Enquanto atravesso o deserto da solidão psicológica
Contemplando as flores vampiras que crescem no estrume
[dos meus pensamentos ruins]
E sugam as idéias que brotam da minha
Mente doente
Fazendo dos meus sonhos
Sonhos abstratos de difícil interpretação
Onde sou maior do que a imaginação
Ou menor do que o que não existe
Onde tudo o que é real foi sonhado
Mas nem tudo o que foi sonhado será real.
TEMPOS MODERNOS por Tubarão
Escritas dos tempos modernos...
relatam verões que viraram invernos...
foices e martelos...
romanos de hoje vestem ternos...
manchando de vermelho o verde e amarelo..
castas que impedem a evolução...
põem na masmorra uma nação...
desde sua fundação...
corra ou morra por inanição...
de amor...respeito e atenção
felicidade tá no prêmio de 1 milhão
chapéu atolado tirou-lhe a visão
Na morte e por que não na vida??...
todos somos iguais
Caranguejo é que anda pra trás
Meu sonho de consumo é a paz
Se a arte imitar a vida
A poesia fica ácida e o quadro cinza
Marcha fúnebre pro palhaço ranzinza
Ciclo vicioso…efeito contagioso
Meia e cueca faz a vez de bolso
Relaxei mas não cheguei ao gozo
No espelho vi a cara do bozo
É oito ou oitenta
Frases otimistas estampam camisetas
Soldados do bem portam escopeta
Pro olho alheio colírio de pimenta
Lágrimas porque o filme é triste
Passarinho na gaiola tem que cantar
por água e alpiste
O coração é duro…resiste
A fe tá de muleta…mas persiste
O sangue é caiçara…acredite
Pros pé de breque
Meu dedo médio em riste!
http://www.dulixo13.blogspot.com/
relatam verões que viraram invernos...
foices e martelos...
romanos de hoje vestem ternos...
manchando de vermelho o verde e amarelo..
castas que impedem a evolução...
põem na masmorra uma nação...
desde sua fundação...
corra ou morra por inanição...
de amor...respeito e atenção
felicidade tá no prêmio de 1 milhão
chapéu atolado tirou-lhe a visão
Na morte e por que não na vida??...
todos somos iguais
Caranguejo é que anda pra trás
Meu sonho de consumo é a paz
Se a arte imitar a vida
A poesia fica ácida e o quadro cinza
Marcha fúnebre pro palhaço ranzinza
Ciclo vicioso…efeito contagioso
Meia e cueca faz a vez de bolso
Relaxei mas não cheguei ao gozo
No espelho vi a cara do bozo
É oito ou oitenta
Frases otimistas estampam camisetas
Soldados do bem portam escopeta
Pro olho alheio colírio de pimenta
Lágrimas porque o filme é triste
Passarinho na gaiola tem que cantar
por água e alpiste
O coração é duro…resiste
A fe tá de muleta…mas persiste
O sangue é caiçara…acredite
Pros pé de breque
Meu dedo médio em riste!
http://www.dulixo13.blogspot.com/
INFORMATIVO - Março/Abril nas ruas!!!
Antes de tudo, queremos agradecer aos fiéis leitores do blog e aqueles que pegaam o seu informativo impresso nos devidos pontos recebidos, muito obrigado pela atenção. FIRMEZA TOTAL!
Você encontra o informativo bimestral nos seguintes pontos: CASTELLI (Zé Henrique), ATTITUDE (Lukinha), CENTRO AFRO, SEBO FORA DE SÉRIE (Sr. Wilson), LUESTER TATOO e diretamente com nós (Maurício e Dé - Mentes Urbanas DCI).
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