quarta-feira, 30 de junho de 2010

ENTREVISTA: Maurício (Mentes Urbanas DCI)

VÁRIAS CONSEQÜÊNCIAS!!!

tecnologia X extermínio núclear

covardia X medo
água X óleo

COPA DO MUNDO por Maurício Moysés (Mentes Urbanas DCI)

Quatro anos a espera do maior espetáculo futebolístico mundial, se não fosse a mídia, que distorce a vivencia nos campos de terra, de rua nas maiores quebradas dos continentes. O sonho de muitos meninos e meninas de brilharem nos tapetes verdes do planeta é mastigado pelo pesadelo de sempre estar em ascensão, no topo das matérias dos programas de TV, jornais, revistas e sites esportivos. Não é querendo cortar o barato do momento, opá! Copa no continente africano, as nações em festa, só que vale mais os investimentos em arenas modernas, estádios luxuosos, do que a criança que chora por falta de alimento. É foda, a criança que assiste a copa hoje jamais saberá que houve miséria naquele continente. E eu quero ver quem ira tirar isso das pequeninas cabecinhas dessa molecada que vive a emoção de gritar gol na copa da África.

FUTEBOL, ALEGRIA E ALIENAÇÃO por Luis Mendes

Futebol - Copa do Mundo

Entendo a paixão dos torcedores. Compreendo essa força viva que impulsiona pessoas. É um triunfo, uma vitória que se torna pessoal pela própria necessidade de ser.

Uma chama sempre a arder

Um golpe de asa

Um fio de paz

Ogivas de Sol

E uma alegria fresca

A soar como água corrente

Sobre chão de pedras...

A alegria é a força que responde a todos os apelos e necessidades humanas. É o coração da vida. A mais livre expressão do que somos de verdade. Aquela gostosa sensação de expansão como o mar a se esparramar sobre todas as coisas. E provocá-la, exaltá-la, é amar da forma mais direta possível. Futebol tem esse poder galvanizador.
Mas continuo a não gostar de futebol. Era o único esporte da prisão. Dia de jogos, a cadeia vinha abaixo. Era preciso lutar contra aquele tipo de alienação. Fazia parte de uma cultura que só servia aos que nos controlavam e mantinham naquela miséria pessoal e cultural. Era um anestésico embriagante: pessoas se esfaqueavam em discussões por causa de futebol.
A despeito das opiniões e leis em contrário, eu sempre tive em mente que alcançaria meus objetivos. A vontade sempre foi imperiosa para mim. E liberdade não era o único de meus ideais. Criar condições de conviver com todos normalmente aqui fora vinha junto. Então, a contracultura era a única alternativa possível. Não gostava e criticava pesadamente novela, futebol, samba, televisão, vadios, “nóias” e conversa fiada em torno de tais assuntos dominantes na prisão.
Preocupava-me em construir um futuro legítimo. Tinha filhos a criar e educar (mesmo preso jamais deixei que lhes faltasse o necessário). Vivi o tempo todo mergulhado em estudos, pesquisas, livros, informações sobre o mundo e absorvendo conhecimentos como uma esponja. Sempre trabalhei na prisão. Trabalho tinha a ver com conquista de espaços e sustento de meu povo. Não sei julgar se errei. Pelo menos não vejo nenhum dos apaixonados pelo futebol que conheci na prisão, no cenário nacional fazendo alguma coisa de real valor. Na maioria foram mortos ainda jovens ou entraram para o caminho das pedras (entrar e sair das prisões até a morte).
Estou com 58 anos. Tudo o que me matei para conhecer e saber sozinho me valeu muito, completamente. Primeiro pela minha libertação. Eu não sairia mais, não fossem os livros. Havia me enterrado vivo com minhas próprias mãos. Depois viabilizou meios de construir uma vida aqui fora, junto a meus filhos e ao que gosto de fazer. Só não me sinto privilegiado porque sei quanto esforço e sacrifício me custou à luta que empreendi. Mas hoje sou capaz de escrever sobre o que me propuser a escrever, e essa é minha paixão maior. E, sigo tentando acrescentar, expandir, ser e fazer feliz.

MEU CORAÇÃO SEM EIRA NEM BEIRA por Akins Kinte

Beirei em minhas vielas Bicando sonhos precisos
Nos campos de varias favelas
A beira de tantos sorrisos
Beirando doces lábios
E as idéias de uns velhos sábios
Tristezas também beirei
A margem de um jogador hábil
Beirando doce ilusão
Num dissabor de companheira
E a beirada do meu coração
Seguiu sem eira nem beira
Beirei doçuras de samba
Versando como beirei
E nas beiras com os bamba
Um bamba me sagrei
Beiro uma cruel dor
Na beirada que chega
Quando uma bala sem amor
E bala tem amor?
Acertou em cheio o dega
E a beira da divineia
Beira que freqüento
Beiro com poucas idéia
Pá num bagunça o coreto
Doce choro que me beirava
Beiras de um coração sem sorte
Beirado coração sonhava
Mesmos beirando a beira da morte
Beiro e berro nos becos de mim
Me perco nas beiras e acho
O Dega nas beiras com tamborim
Chorando e sorriso a cada passo
E nas beiras pisadas
Guarda amarga e doce situação
No jogo da vida a bola é rolada
Na beira do coração.