sábado, 5 de maio de 2012

Salve geral...


Não deixe de ouvir o melhor programa da música negra, "MISTURA FINA" do grandíssimo Ziza e seu companheiro Vinícius que agora estão na radioweb Rizadão FM. Muito soul, funk, melodias, rock, flash rap e R&B passam agora na rádio Rizadão FM.

Todas as sextas das 17:00 h às 20:00 h com reprise aos domingos no mesmo horário.


Bom som a tod@s!!!

domingo, 29 de abril de 2012

Desabafo

Ultimamente não sei porque, mas essa música Jesus Chorou dos cronistas da periferia Racionais MC's não está saindo da minha mente esse labirinto que constantemente eu me perco. Pra ser sincero quase sempre!


Autor: Mano Brown
Ano: 2002

O que é, o que é?

Clara e salgada,
Cabe em um olho e pesa uma tonelada.
Tem sabor de mar,
Pode ser discreta.
Inquilina da dor,
Morada predileta.
Na calada ela vem,
Refém da vingança,
Irmã do desespero,
Rival da esperança.
Pode ser causada por vermes e mundanas
E o espinho da flor,
Cruel que você ama.
Amante do drama,
Vem pra minha cama,
Por querer, sem me perguntar me fez sofrer.
E eu que me julguei forte,
E eu que me senti,
Serei um fraco quando outras delas vir.
Se o barato é louco e o processo é lento,
No momento,
Deixa eu caminhar contra o vento.
Do que adianta eu ser durão e o coração ser vulnerável?
O vento não, ele é suave, mas é frio e implacável.
(E quente) Borrou a letra triste do poeta.
(Só) Correu no rosto pardo do profeta.
Verme sai da reta,
A lágrima de um homem vai cair,
Esse é o seu B.O. pra eternidade.
Diz que homem não chora,
Tá bom, falou,
Não vai pra grupo irmão aí,
Jesus chorou!

Porra, vagabundo óh,
Vou te falar, tô chapando,
Eita mundo bom de acabar.
O que fazer quando a fortaleza tremeu
E quase tudo ao seu redor,
Melhor, se corrompeu,
"- Epa, pera lá, muita calma, ladrão,
Cadê o espírito imortal do Capão?
Lave o rosto nas águas sagradas da pia,
Nada como um dia após o outro dia.
Que, sou eu seu lado direito,
Tá abalado, por que veio?
Nego, é desse jeito!"
Durmo mal, sonho quase a noite inteira,
Acordo tenso, tonto e com olheira.
Na mente, sensação de mágoa e rancor
Uma fita me abalou na noite anterior.
- Alô!
- Ae, dorme em doidão, mil fita acontecendo e cê ai..
- Que horas são??
- Meio dia e vinte ó,
A fita é o seguinte ó,
Não é esqueirando não ó,
Fita de mil grau.
Ontem eu tava ali de CB, no pião,
Com um truta firmezão,
Cê tem que conhecer.
Se pam se liga ele vai saber de repente,
Ele fazia até um RAP num passado recente...
- Uhum.
- ...vai vendo a fita,
Cê não acredita,
Quando tem que se é Jão, (hã) pres'tenção.
Vai vendo: parei pra fumar um de remédio,
Com uns muleque lá e pá, trafica nos prédios,
Um que chegou depois, pediu pra dar uns 2,
Qual, um patrício ó, novão e os carái,
Fumaça vai, fumaça vem ele chapou o côco,
Se abriu que nem uma flor, ficou louco,
Tava eu, mais dois truta e uma mina,
Num tempra prata, show filmado, ouvindo Guina,
Ih, o bico se atacou ó, falou uma pá do cê.
- Tipo o quê?
- Esse Brown aí é cheio de querer ser.
Deixa ele moscar e cantar na quebrada,
Vamo ver se é isso tudo quando ver as quadrada.
Periferia nada, só pensa nele mesmo,
Montado no dinheiro e cês aí no veneno.
E a cara dele, truta?
Cada um no seu corre,
Tudo pelas verde, uns mata, outros morrem.
Eu mesmo, se eu catar, voa numa hora dessa,
Vou me destacar do outro lado de pressa,
Vou comprar uma house de boy depois alugo,
Vão me chamar de senhor... não por vulgo.
Mas pra ele só a zona sul que é a pá,
Diz que ele tira nós, nossa cara é cobrar,
O que ele quiser nós quer, vem que tem,
Porque eu não pago pau pra ninguém.
E eu? Só registrei né, não era de lá,
Os mano tudo só ouviu, ninguém falou um A
- Quem tem boca fala o que quer pra ter nome,
Pra ganhar atenção das muié e/ou dos homens.
Amo minha raça, luto pela cor,
O que quer que eu faça é por nós, por amor.
Não entende o que eu sou, não entende o que eu faço,
Não entende a dor e as lágrimas do palhaço.
Mundo em decomposição por um triz,
Transforma um irmão meu num verme infeliz.
E a minha mãe diz:
"- Paulo acorda, pensa no futuro que isso é ilusão,
Os próprio preto não tá nem aí com isso não,
Olha o tanto que eu sofri, que eu sou, o que eu fui,
A inveja mata um, tem muita gente ruim.
- Pô, mãe, não fala assim que eu nem durmo,
Meu amor pela senhora já não cabe em Saturno."
Dinheiro é bom, quero sim, se essa é a pergunta,
Mas a dona Ana fez de mim um homem e não uma puta!
Ei, você, seja lá quem for, pra semente eu não vim,
Então, sem terror.
Inimigo invisível, Judas incolor.
Perseguido eu já nasci, demorou,
Apenas por 30 moedas o irmão corrompeu,
Atire a primeira pedra quem tem rastro meu.
Cadê meu sorriso? Onde tá? É, quem roubou?
Humanidade é má, e até Jesus Chorou.
Lágrimas...
Lágrimas...
Jesus Chorou.

Vermelho e azul, hotel, pisca só no,
Cinza escuro do céu.
Chuva cai lá fora e aumenta o ritmo,
Sozinho eu sou agora o meu inimigo intimo.
Lembranças más vem, pensamentos bons vai,
Me ajude, sozinho penso merda pra caralho.
Gente que acredito, gosto e admiro,
Brigava por justiça e paz levou tiro:
Malcom X, Ghandi, Lennon, Marvin Gaye,
Che Guevara, 2Pac, Bob Marley e
O evangélico Martin Luther King.
Lembrei de um truta meu falar assim:
- Não joga pérolas aos porcos irmão,
Joga lavagem eles prefere assim,
Cê tem de usar piolhagem!
- Cristo que morreu por milhões,
Mas só andou com apenas 12 e um fraquejou.
Periferia: Corpos vazios e sem ética,
Lotam os pagode rumo à cadeira elétrica.
Eu sei, você sabe o que é frustação,
Máquina de fazer vilão.
Eu penso mil fita, vou enlouquecer,
E o piolho diz assim quando me vê:
- Famoso pra caráio, durão, ih, truta,
Faz seu mundo não, Jão, hã, a vida é curta.
Só modelo por aí dando boi,
Põe elas pra chupar e manda andar depois.
Rasgar as madrugadas só de mil e cem,
Se sou eu truta, não tem pra ninguém.
Zé Povinho é o Cão, tem esses defeitos,
Quê? Cê tendo ou não cresce os zóio de qualquer jeito.
Cruzar se arrebentar, de repentemente vai,
De ponto quarenta, só querer tá no pente.
- Se só de pensar em matar já matou,
Eu prefiro ouvir o pastor:
- Filho meu, não inveje o homem violento e nem siga nenhum dos seus caminhos...
Lágrimas...
Molham a medalha de um vencedor,
Chora agora ri depois, aí, Jesus chorou.

Lágrimas...

A influência cultural dos Estados Unidos por Márcio Tavares



Antigamente, para que uma determinada nação submetesse outra à sua vontade, a utilização da força era fator mais do que obrigatório. Qualquer tipo de demonstração de poder era exercida através da presença de um intimidador aparato bélico no país a ser subjugado.

As armas usadas nos dias de hoje são outras, o que não significa que de vez em quando um arsenal altamente destrutivo não seja posto em ação para dar o exemplo ou dizer quem dita às regras de fato, mas nem sempre de direito.

Agora, a dominação é realizada através de ideias. Basta ligar a TV para perceber que muitas vezes isso é feito de forma sutil. Outras nem tanto.

A supremacia dos Estados Unidos, consolidada com o término da Guerra Fria (1945-1989), é praticada segundo esses princípios. Ou seja, uma eficiente combinação entre poderio militar e propagação de elementos da cultura estadunidense.

O processo de expansão territorial efetivado pela maior potência mundial da atualidade teve como base a intervenção militar como instrumento de domínio. Além de provocar desgaste e nem sempre ser encarada de forma positiva pela comunidade internacional, a mudança de estratégia, como aconteceu com a implantação das chamadas Política da Boa Vizinhança (Good Neighbor Policy) e Doutrina Truman, tinha por fundamento adotar uma postura de camaradagem com aqueles contemplados pelo gesto cordial e caridoso do Tio Sam.

Se uma série de acontecimentos históricos de extrema gravidade afetava grande parte do planeta, por outro lado, os Estados Unidos souberam tirar proveito desses momentos de crise mundial para impulsionar o seu crescimento econômico.

Não só mercadorias produzidas nos Estados Unidos se transformaram em objeto de cobiça. A música, o idioma, a moda, o esporte, a publicidade, os hábitos e o próprio estilo de vida dos americanos do norte passaram a ser imitados e considerados como referencial de modernidade.

Não é a toa que o american way of life encontrou no cinema o seu principal instrumento de divulgação. Seja veiculando costumes, comportamentos e tendências, não só de merchandising vivem os filmes. Dificilmente as produções cinematográficas realizadas em Hollywood mostram o lado podre da sociedade estadunidense.

A intensificação do processo de globalização e a afirmação do capitalismo como sistema hegemônico são outros fatores que contribuíram em muito para o fortalecimento do império. E aí entram em cena as inúmeras empresas transnacionais oriundas dos Estados Unidos, que, além de fincarem a bandeira de marcas como Coca-Cola e Mc Donald’s nos mais distantes rincões da Terra, também desempenharam um importante papel na difusão dos valores americanos.

Enfim, como diz o samba de Jorge Aragão, “nem tudo o que é bom vem de fora”. Em qualquer lugar do mundo existem coisas boas e coisas ruins. Cabe a você saber tirar proveito disso.


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COTAS RACIAIS SIM!

SEM MAIS NO MOMENTO...


O URUGUAI por Eduardo Galeano


Até um certo momento o Uruguai só era mencionado no Brasil por duas coisas: ricos iam se divorciar e/ou casar e ter lua-de-mel em Punta del Este e pela derrota no fatídico dia 16 de julho de 1950 para a seleção Uruguai no Maracanã, de virada, na Copa do Mundo feita para o Brasil ser campeão. Alguns haviam passado por Montevidéu e diziam que ficava a meio caminho entre Porto Alegre e Buenos Aires.

“Nós uruguaios temos certa tendência a crer que nosso país existe, embora o mundo não o perceba”, diz Galeano. “Os grandes meios de comunicação, aqueles que têm influência universal, jamais mencionam esta nação pequenina e perdida ao sul do mapa.”

Um país de poucos milhões de habitantes que, como diz ele, tem população similar a alguns bairros das grandes cidades do mundo, mas que provocaria algumas surpresas para quem se arriscasse a chegar por ali.

Um país que aboliu os castigos corporais nas escolas 120 anos antes da Grã-Bretanha. O Uruguai adotou a jornada de trabalho de oito horas um ano antes dos Estados Unidos e quatro anos antes da França. Teve lei do divórcio setenta anos antes da Espanha e voto feminino quatorze anos antes da França.

O Uruguai teve proporcionalmente o maior exílio durante a ditadura militar, em comparação com sua população. Assim, tem cinco vezes mais terra do que a Holanda e cinco vezes menos habitantes. Tem mais terra cultivável que o Japão e uma população quarenta vezes menor.

O país ficou relegado a uma população escassa e envelhecida. Tristemente Galeano diz que “poucas crianças nascem, nas ruas vêem-se mais cadeiras de rodas do que carrinhos de nenês”.

Ainda assim, Galeano consigna bons motivos para gostar do seu país: “Durante a ditadura militar, não houve no Uruguai nem um só intelectual importante, nem um só cientista relevante, nem um só artista representativo, único que fosse disposto a aplaudir os mandões. E nos tempos que correm, já na democracia, o Uruguai foi o único país do mundo que derrotou as privatizações em consulta popular: no plebiscito de fins de 92, 72% dos uruguaios decidiram que os serviços essenciais continuaram sendo públicos. A notícia não mereceu sequer uma linha na imprensa mundial, embora se constituísse numa insólita prova de senso comum.” Talvez por esses “maus exemplos” tentam desconhecer o Uruguai, apesar da insistência dos uruguaios de afirmar que seu país existe.

Por tudo isso, Galeno se orgulha do seu “paisito”, “este paradoxal país onde nasci e tornaria a nascer”.


Eduardo Galeano - Escritor e jornalista