sábado, 22 de junho de 2013

De qual ângulo você vê o Maracanã? por André Lopes de Souza


No dia de sua reinauguração, uma parte do mundo voltou seus olhos ao Maracanã, um dos principais templos do futebol. Finalmente, um estádio brasileiro com cara de Europa, moderno, com assentos numerados, gramado impecável e excelente iluminação. De todos os lugares é possível ter uma visão completa do campo. A arquibancada ficou mais próxima, os jogadores quase podem ouvir gritos individuais dos torcedores. Os problemas dos altos preços das refeições e do baixo número de banheiros não comprometeram o reencontro do povo carioca com seu maior amor. O Maracanã volta a ser uma das cerejas do bolo da Cidade Maravilhosa.
Esse foi o discurso da mídia nos dias recentes, repetido exaustivamente por várias reportagens. Mas, às vezes, as ausências nos dizem mais do que o que é amplamente divulgado. Então, uma coisa em particular me chamou a atenção. Onde estava a Mangueira? A Mangueira, uma das mais tradicionais favelas cariocas, fica a uns 200m do estádio, contudo em pouquíssimos momentos as imagens que retrataram o Maracanã no jogo de reinauguração incluíam a comunidade. Os barulhentos helicópteros que sobrevoaram a região o dia todo ficavam estrategicamente posicionados em cima da favela nos momentos em que a TV colocava as imagens aéreas. Assim, os ângulos privilegiaram a paisagem moderna da Tijuca e da Vila Isabel em detrimento do tradicional bairro da Mangueira.
Da mesma forma que durante a transmissão, se pesquisarmos no Google Imagens as palavras “Novo Maracanã” veremos que a esmagadora maioria das imagens aéreas do estádio escondem a favela.
O jogo, transmitido a vários países, parecia que precisava passar o recado de que o Brasil é um país sério e moderno, capaz de realizar um evento de porte mundial. E, para conseguir convencer, precisamos esconder aquilo que temos de mais “atrasado”, a favela.
Sintomáticas foram às várias reportagens brasileiras que repercutiam a visão da mídia externa sobre suas impressões do novo estádio. O Brasil moderno e competente precisava ser posto a prova. As notícias repercutiam os altos preços do estádio, o fato de ter passado recentemente por uma custosa reforma para o Pan-Americano e os atrasos na obra. Curiosamente, tais fatos são menos comentados internamente.
Se esses temas encontram resistência na parcela menos crítica da mídia, a grande soma de remoções em virtude de obras viárias é sistematicamente ignorada. Na Rua São Francisco Xavier, há cerca de 300m do estádio, temos várias famílias sendo removidas. Podemos ver várias faixas de protesto com os dizeres: “Queremos trabalhar”, “Polo automotivo, orgulho da cidade” se referindo as empresas de comércio de autopeças das quais as famílias da região tiram seu sustento. As remoções são inevitáveis em muitas obras públicas; o problema é que elas estão ocorrendo sem que se respeitem os direitos dos cidadãos. Muitas vezes o traçado de novas vias é pensado justamente para passar por comunidades, pois o preço da remoção é menor. Na grande maioria dos casos os valores pagos pelo desalojamento e as condições de reassentamento são insatisfatórias. Muitos blogs e trabalhos científicos nos dão farto material sobre o tema.
O que fica claro nessa análise é que para a mídia brasileira é mais importante relatar o que a imprensa externa achou do evento do que produzir matérias dando voz a todos os interessados nos acontecimentos relativos ao Novo Maracanã.
Mais que uma crítica à cobertura midiática, questiono o sentimento de parte dos brasileiros de tentar esconder as misérias de nossa sociedade. Ter favelas é uma coisa vergonhosa, principalmente em um país que se orgulha de ser a sexta economia do mundo. Entretanto, se nos envergonhamos dessa desigualdade, devemos resolver o problema, provendo a essas áreas serviços de saneamento, regularização fundiária, escolas de qualidade, transporte público eficiente, hospitais com atendimento digno, políticas de segurança pública que não se baseiem na opressão, além de implementar mecanismos que freiem a especulação imobiliária e que garantam o acesso à moradia.
Evidente que para isso o Estado deve servir menos às empresas e mais aos cidadãos.
Diante desse cenário, devemos refletir sobre quais são as condições sociais que legitimam a visão de que é mais importante esconder a favela do que dar cidadania. Dito de outra forma, devemos pensar o que faz com que estejamos, como sociedade, mais atentos a demandas exteriores do que a de nossos cidadãos. Enfim, qual é o motivo de se esconder as favelas? Quantas são as violências implícitas em uma só imagem?

André Lopes de Souza é Geógrafo formado pela UNICAMP.
souzalandre1@gmail.com

Branquearam o futebol por Juca Kfouri


Que perdoem os que vivem num país tão diferente que imaginam não haver racismo no Brasil.
Que perdoem, ainda, os que diziam que a política de cotas é que estabeleceria discriminação racial em nossas faculdades, o que os fatos têm desmentido à exaustão.
Que perdoem, também, os complacentes de plantão que a tudo justificam, até a entrega de estádios inacabados, sujos, com entornos perigosos, por mais que as obras tenham estourado todos os prazos e quase dobrado os custos.
Porque o preço médio do ingresso na reabertura do Maracanã ficou na casa dos R$ 150!
Negros, no estádio, só os que lá foram para trabalhar.
Dê uma olhada neste time, dos anos 80, convocado por Telê Santana: Valdir Peres, Leandro, Oscar, Edinho e Pedrinho; Falcão, Sócrates e Zico; Dirceu, Careca e Éder. Sabe o que ele tem de extraordinário, apesar de jamais ter entrado em campo, embora os 11 tenham convivido na mesma concentração para a Copa da Espanha? São todos brancos.
Fruto do momento em que a várzea perdeu para a especulação imobiliária, do surgimento da escolinhas de futebol e, é claro, de circunstâncias aleatórias.
Curiosamente, os maiores ídolos dos times mais populares do eixo Rio-São Paulo eram brancos, Zico e Sócrates, filhos da classe média.
João Saldanha se preocupava e apelava: "Não acabem com os nossos crioulos!".
Do time que disputou a Copa de 1982, Luisinho, Júnior, Toninho Cerezo e Serginho eram os titulares que davam o tom mestiço que sempre caracterizou nossas seleções de Djalma Santos, Didi, Mané Garrincha, Pelé, Zózimo, Amarildo, Jairzinho, Brito, Everaldo, Cafu, Aldair, Márcio Santos, Mauro Silva, Mazinho, Romário, Ronaldos, Rivaldo, Roque Júnior, Gilberto Silva, Kleberson, Roberto Carlos, para citar apenas os titulares campeões mundiais.
Será que teremos de criar cotas também nos estádios, para evitar que a elitização em marcha exclua ainda mais os excluídos? Se até no velho Pacaembu, nos jogos mais cotados do Corinthians, é perceptível o branqueamento, como será nos novos estádios da Copa-14, chamados impropriamente de arenas?
Dia desses esta Folha fez certeiro editorial sobre as oportunidades que a nova situação enseja para a modernização do futebol brasileiro.
Organização, conforto, segurança e bons gramados, tudo é essencial e há décadas se luta por isso.
Como não se deve esquecer de que o bom gestor do negócio do futebol haverá de ser aquele profissional que, friamente, for capaz de exacerbar a paixão.
Que perdoem as arenas, mas sem os crioulos a paixão será absorvida pela areia virtual e movediça que as caracterizam, porque até do ponto de vista puramente da língua elas são uma fraude, plastificadas, pasteurizadas e higienizadas.

Juca Kfouri é formado em ciências sociais pela USP. Com mais de 40 anos de profissão, dirigiu as revistas "Placar" e "Playboy". Escreve às segundas, quintas e domingos na versão impressa de "Esporte".

terça-feira, 18 de junho de 2013

Chegou a nossa vez por MC Maurício

Manifestações na cidade de São paulo junho/2013

Conversando com um amigo mencionei que estamos vivendo um período histórico em nosso país, não estamos mais saindo na rua para nos reunirmos em prol do futebol jogado pela seleção brasileira ou muito menos para requebrar no carnaval, que são duas culturas que trazem a nossa identidade, mas a anos se corrompeu e só se mantem no coração e na mente de quem viveu por amor a parada. As recentes manifestações nas capitais dos estados e nas grandes e médias cidades do Brasil é o reflexo não só do aumento agressivo no valor do transporte público, mas é toda a vontade de gritar que esta entalado na garganta referente aos crimes cometidos no Brasil desde a invasão pelos Europeus (isso desde em 1500).
O povo na rua reivindica a falta de educação pública de qualidade em todos os níveis de aprendizagem que incluem também uma maior atenção aos nossos queridos professores, melhores condições no tratamento a saúde nos hospitais públicos e mais profissionalismo, habitação para aqueles cidadãos que estão em áreas de risco ou mesmo aqueles que não tem onde morar, segurança pública para o público (e isso incluem os militares mal remunerados que estão a merce dos governantes), assim como, a revolta é pelo passado histórico de opressão violenta contra os negros escravizados, indígenas torturados, a má distribuição de terra ou melhor a falta dela em um país com magnitudes territoriais a nível continental, aos massacres nas cadeias, presídios, febem's, cárceres, penitenciárias, aos crimes ocultos da ditadura militar a mando dos estadunidenses, ao extermínio de jovens nas periferias e favelas. Junta tudo isso coloca na balança, o que pesa mais para o governo federal??? Nada. Prova disso é a FIFA vir aqui estupra, goza e quer mandar, dominar e aos nossos olhos estão os estádios de padrão europeu pros gringos assistirem os jogos e as pequenas comunidades ao redores dos estádios totalmente destruídas. Toda revolta tá nisso ae, é um pacotão lacrado de anos e anos sofrendo na mão do opressor. 
O Brasil quer ser campeão, mostrar pra ONU e pro mundo que é capaz de elevar os números do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), mas na real sempre perde no quesito qualidade de vida que está ausente nos miseráveis do terceiro ou quarto, quinto mundo que diariamente movem as engrenagens na cidade, no campo (opá no campo tá tudo mecanizado e o padrão da agricultura é do porte de exportador), pois é desse jeito tudo nosso nada nosso!
E tem mais, a grande mídia braço gordo da política suja do nosso país, ainda insiste em querer manipular... Haverá no meio das manifestações aproveitadores que irão usufruir da nossa emoção e razão de luta, mas temos que ser inteligentes e espertos, pois nem sempre se dá a cara a tapa, ou melhor acho que todo dia se dá a cara a tapa, só que agora a voz não se cala mais!
Chegou a nossa vez de mudar, pelo menos não deixar que as coisas sejam futuramente como estão. Medíocres e vergonhosa! Brasil mostra a sua cara, disse o artista, assim como, Discurso ou Revolver, rimou o poeta. As ruas são o nosso palco e a cena somos nós que fazemos, calar-se não é a solução. Não se espantem, pois essa geração tem muito a dizer! 
A revolta só está começando...